Grandes obras industriais e de infraestrutura fizeram a festa de muitas companhias da construção pesada e de engenharia no país nos últimos anos. Em 2010, ano pós-crise mundial, não podia ser diferente. Hidrelétricas como Jirau e Santo Antônio, o rodoanel de São Paulo, o programa de moradia popular Minha Casa, Minha Vida e projetos de mineração, siderurgia e usinas de açúcar e álcool são exemplos de empreendimentos que engordaram as carteiras de encomendadas e pedidos de muitos grupos nacionais e estrangeiros.
Embalada nesses programas de investimentos - públicos e privados -, a Concremat, tradicional empresa familiar do Rio de Janeiro, especializada na atividade de engenharia de obras, começa este ano com uma carteira de contratos na casa de R$ 1,1 bilhão. É um número recorde na história da empresa, de quase 60 anos - foi fundada em 1952 pelo professor Mauro Ribeiro Viegas. O montante fica bem acima da meta, que era R$ 900 milhões.
Na reta final de 2010, a empresa firmou contrato de R$ 90 milhões com a Eletronuclear para fazer o gerenciamento e fiscalização das obras civis da usina de Angra 3, que está orçada em cerca de R$ 10 bilhões. O contrato, com duração de cinco anos, é importante na carteira da empresa, afirma Mauro Ribeiro Viegas Filho, presidente da Concremat. Essa usina nuclear, cujas obras civis e de montagem retomadas foram em novembro, desde novembro, pela Andrade Gutierrez. Os equipamentos estão comprados há mais de 25 anos. Também foi selecionada pela Transpetro, conforme notícias na imprensa cearense, para fazer o estudo de localização de um novo estaleiro no Ceará. O trabalho deverá durar seis meses.
Com atuação em três grandes áreas, com destaque para Engenharia e Meio Ambiente, a Concremat projeta receita bruta na casa de R$ 950 milhões neste ano. Esse desempenho é 20% superior ao alcançado em 2010 (R$ 800 milhões), que também foi recorde. Esse ramo de negócio, o carro-chefe da empresa, fica com cerca de 70% da receita. É seguido pela atividades de Obras e Geotecnia, com 17%, e por Inspeções e Laboratórios, com 13%.
De 2007 a 2009, concorrendo à maioria das obras do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento do governo federal, a empresa cresceu a uma taxa média de 45% ao ano. Esse desempenho, explica o executivo e empresário, foi puxado em grande parte por contratos ligados a projetos de energia, mineração, saneamento e transportes. Na crise econômica houve um esfriamento na carteira relativa a contratos de obras industriais, tocadas pelo setor privado. A retomada da economia em 2010, informa Viegas Filho, voltou a aquecer os negócios das diversas empresas do grupo Concremat.
Em 2007, a companhia fechou com faturamento de R$ 301 milhões, montante que mais que dobrou dois anos depois, para R$ 655 milhões. Concomitantemente, o número de empregados passou, de 3.036 para 5.200 no fim de 2009, com destaque para engenheiros, geólogos, arquitetos, arqueólogos, biólogos, entre outros técnicos especializados. "Cerca de um terço do nosso quadro é formado por pessoal de nível superior e gente com PHD, Master e MBAs", observa ele.
Segundo Viegas Filho, como outras empresas de engenharia, a Concremat enfrenta grande dificuldade em contratar mão de obra qualificada - no ano passado, para acompanhar sua escalada de crescimento, teve de adicionar ao quadro 1 mil funcionários com o perfil acima.
A dificuldade na captura de talentos dobra ao ter de convencer a nova mão de obra a ir para projetos em locais remotos. Por exemplo: a empresa está presente na implantação da mina de carvão de Moatize, da Vale, em Moçambique. No Brasil, conta com equipes nas frentes de obras das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, durante a construção do gasoduto Coari-Manaus, em plena Amazônia, bem como em projetos de mineração no Norte do país.
O empresário informa que, no ano passado, muitos contratos tiveram desfecho no segundo semestre. Outros, no setor público, após a definição das eleições para presidente da República e para governadores nos Estados. Para engordar a carteira em 2011, a empresa vai disputar contratos de obras (para gerenciamento e outros serviços) como as hidrelétricas de Belo Monte e do complexo Teles Pires (recém-licitada e no qual fez os estudos ambientais e de inventário para a EPE, estatal federal). Quer estar presente também na concorrência para o trecho Leste do rodoanel paulista, de terminais portuários, em projetos de saneamento e de transportes (como metrô) e nas construções e reformas de estádios para a Copa de 2014. Outro mercado importante que vislumbra é o de óleo e gás, desde a exploração até instalação de dutos e refinarias.
Otimista, mas cauteloso, devido aos desdobramentos econômicos no mundo, o empresário vê nos próximos anos um amplo leque de oportunidades. "O Brasil tem previstos investimentos anuais em torno de R$ 240 bilhões em obras e projetos de 2011 a 2014, com base em anúncios feitos pela área pública e pelo setor privado", afirma Viegas Filho. Ele destaca que óleo e gás e transportes ficam com mais de 50% desse montante. Uma fatia de 31% fica com as áreas de energia e indústria. Saneamento ainda capenga com 4,5%.
A Concremat, oriunda da criação do primeiro laboratório privado de concreto e materiais do país, é composta por seis empresas - faz desde estudos de viabilidade até a execução de uma obra. O controle da família - seis irmãos, cada um com 16,33% de participação - é feito pela holding MRV Empreendimentos e Participações, que é dona de 51% do capital da Concremat. Executivos e acionistas que atuam na gestão detêm os demais 49%.